Aos dezenove dias do mês de dezembro de mil novecentos e setenta e sete, às 20, 30 horas, reuniram-se no Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina (EPM) os professores-pesquisadores abaixo mencionados, com a finalidade expressa de discutir sobre a criação de uma Sociedade Científica:
Além dos presentes comunicaram o desejo de obter mais informações, ou concordância e/ou apoio à eventual criação de nova Sociedade, por cartas, telegramas, telefonemas ou pessoalmente os seguintes professores-pesquisadores:
Abrindo os trabalhos E. A. Carlini, por consenso indicado para dirigir a reunião, expõe que a idéia básica subjacente à criação da Sociedade é a de que os pesquisadores brasileiros interessados no amplo campo de pesquisa sobre Sistema Nervoso e/ou Comportamento estão dispersos, não havendo oportunidade para reuniões conjuntas. Assim, psicólogos, neurofisiólogos, etólogos, psicofarmacólogos, neuroquímicos, neuroanatomistas, psiquiatras, neurólogos, etc., não têm um foro comum onde possam se reunir periódica e regularmente a fim de discutir seus trabalhos de pesquisa sob ângulos interdisciplinares. A nova Sociedade, caso fosse criada, teria por objetivo básico sanar esta falha procurando congregar os cientistas em Sistema Nervoso e/ou Comportamento, quaisquer que sejam as suas formações ou disciplinas originais. Para atingir este fim, a nova Sociedade procuraria, entre outras atividades, organizar reuniões conjuntas (portanto interdisciplinares) e editar um boletim periódico. Pedindo a palavra, Jandira Masur, delegada brasileira da Sociedade Latinoamericana de Psicobiologia (SLAP) indaga se a nova Sociedade iria se superpor às atividades da SLAP no Brasil. Respondendo, Cesar Ades vice-presidente da SLAP, argumenta que não haveria tal possibilidade, desde que a nova Sociedade poderia filiar-se à SLAP e que, na realidade, viria até dar mais ênfase à Sociedade Latinoamericana. Marcos Pacheco Ferraz, tesoureiro da Sociedade Brasileira de Psiquiatria (SBP) e a representando oficialmente na reunião, traz o apoio da SBP à idéia, afirmando que a nova Sociedade poderia vir a complementar a SBP em áreas onde a mesma não tem tido a oportunidade de atuar mais intensamente. Luiz Augusto Andrade pergunta se, caso seja criada, a nova Sociedade procuraria entrar em contato com a Academia Brasileira de Neurologia (ABN) da qual é membro, a fim de evitar duplicação de atividades afins. E. A. Carlini responde que a função da nova Sociedade seria a de complementar e não de duplicar. Tomando a ABN para argumentação esclarece que se a nova Sociedade viesse a organizar, por exemplo, um Simpósio sobre a "Moléstia de Parkinson", somente o faria de maneira interdisciplinar, talvez com o nome mais genérico de "Psicobiologia do Sistema Nigro-Estriatal" procurando congregar neuroanatomistas, neurofisiólogos, psicofarmacólogos, para, juntamente com neurólogos e psiquiatras, estudarem aspectos básicos do sistema nigro-estriatal e as consequências de lesões no mesmo, quer experimentais (em animais), quer espontâneas. No exemplo citado, a Sociedade poderia, sendo o caso, pedir a co-participação de outras sociedades. Esclarece, ainda, que no caso da nova Sociedade vir a organizar uma reunião de Psicobiologia na SBPc, a mesma poderia ser comum com as Sociedades de Farmacologia e Terapêutica Experimental e de Fisiologia. Assim, nesta reunião específica sobre Sistema Nervoso e/ou Comportamento organizado por estas três Sociedades, não havendo divisão ou esvaziamento, mas sim conjugação de esforços. Ninguém mais querendo fazer uso da palavra, foi colocado em votação a proposta de criação da nova Sociedade. A decisão foi favorável por unanimidade.
E. A. Carlini lê a carta de convocação enviada, na qual é sugerida secções ou colégios de neuroquímica, neuroanatomia, psicologia experimental e etologia, psicofisiologia e neurofisiologia, psicofarmacologia e psicopatologia, cada uma das quais teria um coordenador. Dora Ventura opinou que tais secções estariam em contradição com o próprio objetivo da Sociedade, que seria o de congregar os interessados em Sistema Nervoso e/ou Comportamento; com as secções seria quase o mesmo que ter mini-sociedades isoladas. Propõe que ao invez de secções, a Sociedade deveria incentivar a formação de grupos de trabalhos que de maneira interdisciplinar estudassem temas específicos como, por exemplo, sistemas sensoriais. M. L. Frochtengartten diz que as secções poderiam dar impressão de "invasão" em outras sociedades. Núbio Negrão não é também favorável à idéia de secções, o que seria contraditório com a finalidade da Sociedade. Charles J. Lindsey, Cesar Ades e Francisco Cersósimo secundam opinião de Núbio Negrão. E. A. Carlini esclarece que a finalidade das secções seria, na realidade, diferente da até então julgada. As secções, através de seus coordenadores escolhidos pela futura Diretoria da Sociedade, teriam várias funções:
Núbio Negrão e Jandira Masur sugere então que, na realidade, não seriam secções, mas sim assessorias, o que se estava pretendendo. Núbio Negrão friza, ainda, que se deve enfatizar que são assessorias e assessores e não secções, para não dar a impressão de mini-sociedades dentro da Sociedade Brasileira de Psicobiologia. Sugere ainda que outra função das assessorias através dos assessores escolhidos seria incentivar a formação de grupos de trabalho interdisciplinares exemplificando, com grupo de sistemas sensoriais, grupo de estudo de mecanismos de sono, etc. Isac Karniol sugere que sejam discutidas e já aprovadas algumas áreas de interesse, para que o assunto não fique vago para a futura Diretoria. Dever-se-ia definir as áreas iniciais, deixando-se oportunidade para a aceitação de outras assessorias no futuro. Sugere que uma assessoria em Psicofarmacologia Clínica independente da de Psicofarmacologia básica seria importante. Valentim Gentil Filho opina ser isto desnecessário baseando-se no exemplo da Sociedade Britânica de Psicofarmacologia onde os trabalhos básicos e clínicos de psicofarmacologia são apresentados em conjunto, com vantagens. E. A. Carlini esclarece que não seria de se esperar que a Sociedade interessasse à totalidade dos psiquiatras e neurologistas, mas somente àqueles que desenvolvem trabalhos de pesquisa nas áreas. Esclarece ainda que caberia à assessoria de Psicofarmacologia importante função de procurar desenvolver a mentalidade de que pesquisa em neuro e psicofarmacologia clínicas não se restringe apenas em testar aqui as drogas já desenvolvidas e testadas no Exterior. Luiz Augusto Andrade e Sérgio Tufik sugerem que se passe a definir as áreas prioritárias de assessoria. Após consenso de que se deveria passar à definição das assessorias, em seguida, discutiu-se a forma de escolha dos assessores. Por unanimidade ficou decidido que entre os presentes seriam escolhidos assessores provisórios. Estes, através de carta redigida pela Diretoria Provisória, solicitariam a adesão de novos sócios. Uma vez obtida a lista de interessados, cada assessor a entregaria à Diretoria Provisória, a qual faria a escolha dos assessores definitivos a ser referendada por uma assembléia geral ou por carta. Passou-se em seguida à definição e escolha das áreas prioritárias para assessorias e à escolha dos assessores provisórios:
A Diretoria provisória enviará carta convidando-o para participar. Terminada a escolha das assessorias, E. A. Carlini lembrou que os assessores provisórios receberão brevemente cópias de carta modelo, que deverão ser enviadas aos cientistas de cada área. Caberá ainda aos assessores enviar à Diretoria Provisória as respostas recebidas, com a maior brevidade possível, a fim de que se possa proceder à escolha definitiva. IV- Sobre as categorias de membros - E. A. Carlini esclarece que a proposição inicial é estabelecer três categorias de membros: titular, associado e aspirante, sendo os dois primeiros escolhidos mediante avaliação de curriculum e o último a estudantes de graduação. Isac Karniol apoia a idéia, afirmando ser necessário critério rigoroso na seleção apoiado na produção científica dos membros. Dora Ventura secunda Isac Karniol, citando exemplos de uso inadequado no nome de Sociedade para um sócio, quando era secretária geral da SLAP. Valentim Gentil Filho opina que apenas o número de trabalhos científicos publicados não é um bom critério. Francisco Cersósimo sugere que este assunto deveria ser de competência da Diretoria, após uma elaboração dos estatutos. João Palermo Neto sugere que sócios só deveriam ser admitidos pela Assembléia Geral mediante indicação de sócio. Jandira Masur opina que aprovação em Assembléia Geral não é suficiente dado que normalmente nestes casos as aprovações são quase que automáticas. Sérgio Tufik propõe que a Sociedade deveria ser aberta para todos com um só tipo de sócio, sem classificação, à Diretoria e Assessoria caberiam selecionar os trabalhos que seriam apresentados pelos sócios. Cesar Ades propõe duas categorias de sócios, titular e aspirante, os primeiros portadores de diploma de ensino superior e os segundos seriam alunos de Graduação. Núbio Negrão sugere apenas uma categoria de sócios, a de titular, exigindo-se condições mínimas de produtividade científica a fim de evitar que posições acadêmicas e administrativas tenham peso na seleção. Em seguida são colocadas em votação quatro propostas, com o seguinte resultado obtido: (dois participantes já haviam se ausentado):
E. A. Carlini esclarece que a proposta inicial é de não se cobrar anuidade, justificando que com frequência sócios não pagam as anuidades e mesmo se o fazem o dinheiro arrecadado não representa praticamente nada para o desenvolvimento das sociedades. Núbio Negrão opina que é favorável à cobrança de anuidade porque o pagamento deveria significar o mínimo de demonstração de interesse por parte do sócio. Colocadas em votação, a proposição de Núbio Negrão (haver anuidades) venceu por 23 votos a 1. Caberá à Diretoria fixar a taxa anual.
Por unanimidade ficou estabelecido que a Diretoria Provisória estabelecerá contatos para criar as Regionais da Sociedade. Ficou também resolvido que os Delegados Regionais, a exemplo dos assessores, participarão também das decisões da Diretoria.
Ficou estabelecido que a Diretoria Provisória teria por função redigir os estatutos levando em consideração os itens aprovados na reunião, coordenar os trabalhos das assessorias, enviar propostas para novos sócios, redigir carta para os assessores, estabelecer contatos com eventuais novos sócios e estabelecer as Regionais da Sociedade. A função final da Diretoria Provisória será convocar Assembléia Geral para Eleição da Diretoria definitiva, aprovação dos Estatutos, referendar os assessores e Delegados das Regionais. A Convocação e eleição poderá ser por carta. Em seguida procedeu-se à escolha da Diretoria Provisória sendo eleitos por unanimidade, por indicação dos participantes, E. A. Carlini, Núbio Negrão, Cesar Ades e Dora F. Ventura. E. A. Carlini pede a palavra sugerindo que a Diretoria Provisória (e também a Diretoria a ser eleita) procure, ainda no correr de 1978, estabelecer como meta mínima da nova Sociedade os seguintes objetivos:
Ninguém mais querendo fazer uso da palavra a reunião foi encerrada às 0, 30 horas do dia vinte de dezembro de mil novecentos e setenta e sete. São Paulo, 20 de dezembro de 1977.
a. Isac G. Karniol Luis A. P. de Lacerda Francisco Cersósimo Mauro S. Weintraub Elisaldo L. A. Carlini José Roberto Leite Karolina Dallmeier A. P. Zwicker Charles J. Lindsey Jomar M. Cunha Valentim Gentil Filho Clarice Gorenstein Helenice de Senna Giles Alexande Rae João Palermo Neto Orlando F. A. Bueno Gilberto F. Xavier Jandira Masur Núbio Negrão Cesar Ades Doar F. Ventura Ricardo L. Smith Luiz A. F. de Andrade Marcos Pacheco Toledo Ferraz Mário L. Frochtengartten Sérgio Tufik
Prof. Dr. E. A. Carlini - Presidente